Como funciona a fisioterapia na reabilitação em UTIs cardiológicas



Embora tenham evoluído ao longo dos anos, as cirurgias cardíacas não estão livres de complicações pós-operatórias. Estas têm relação com fatores ligados à condição clínica e funcional do paciente e ao tipo de procedimento cirúrgico. Por isso, o fisioterapeuta é um profissional essencial na recuperação do paciente pós-cirurgia cardíaca. "O paciente que infartou e precisou se submeter a uma cirurgia cardíaca de grande porte, que evoluiu para a colocação de pontes safenas, mamárias, que chega na UTI com ventilação mecânica, nós fazemos o processo de 'desmame' desse doente para irmos para a reabilitação", informa o fisioterapeuta Bráulio Brasil, acrescentando que muitas alterações podem ocorrer com este paciente, como instabilidade hemodinâmica, pneumonia, febre, quadro infeccioso, alterações na função renal, que faz com que ele pare de urinar, aumento de secreção e dor, que é uma das principais condições limitantes para a recuperação funcional.

De acordo com Bráulio Brasil, se o paciente tem uma condição neurológica boa, está consciente, com forma muscular preservada, o papel do fisioterapeuta é trazer informações e medidas que diminuam o medo do paciente, que é comum a todos que passam por uma cirurgia aberta, e fazer com que ele comece a trabalhar para a própria recuperação.

O processo de reabilitação se inicia com a utilização de técnicas que deixam o paciente mais tranquilo e seguro. Assim, é proporcionado um suporte ventilatório e respiratório, ampliando o volume de ar dentro do pulmão, ensinando-o a tossir, a retirar a secreção do pulmão e, a partir daí, entra-se na fase de mobilização precoce, levando o paciente a se sentar e já trabalhando a flexibilidade dos membros inferiores. "Tudo isso é feito independente dele estar ou não com o tubo de oxigênio. Vamos mensurando a função respiratória com o intuito de desentubá-lo para que ele volte a respirar sozinho. É um processo muito sistemático, porque necessita de um tratamento muito próximo. Isso faz com que a fisioterapia seja de extrema importância", ressalta. Passada a primeira fase, são utilizadas outras técnicas, como deambular, jogos de videogames interativos, que estimulam o cérebro e a coordenação motora ao mesmo tempo e, numa fase mais tardia, exercícios com peso de baixa carga.

Além do processo de reabilitação, BRÁULIO BRASIL afirma que insuficiência cardíaca congestiva é outra doença na qual a fisioterapia age com eficácia

Insuficiência cardíaca congestiva
Bráulio Brasil afirma que insuficiência cardíaca congestiva é outra doença na qual a fisioterapia age com eficácia. Uma das complicações decorrentes dessa doença é o edema (água) agudo de pulmão, que ocorre exatamente pela descompensação cardíaca."Como a função cardíaca alterou, isso faz com que o pulmão aumente sua sobrecarga respiratória para compensar a função cardíaca doente, levando a um aumento de líquidos dentro do pulmão, o que causa o edema e leva a uma falta de ar muito grande", explica. Neste caso, o médico prescreve  medicamentos e o fisioterapeuta faz a ventilação não invasiva, que são próteses ventilatórias colocados no rosto do paciente, que traz um volume de ar confortável, auxilia na expansão pulmonar e estabilizando o quadro geral, trazendo uma melhora significativa em poucas horas. "O atendimento tem que ser rápido porque senão ele acaba evoluindo para a ventilação mecânica, que é a colocação do trubo orotraquial com a prótese ventilatória. As complicações são muitas e pode evoluir até para um quadro de morte. Como aumentou o volume de água dentro do pulmão, a respiração fica acelerada e o paciente pode acabar entrando em falência respiratória", alerta.

Fisioterapia no pré-operatório
Quando possível, o ideal é que os pacientes de cirurgia cardíaca sejam acompanhados por um fisioterapeuta desde o pré-operatório. "Às vezes, o paciente fica internado por dois, três dias antes da cirurgia e aí já começamos a fisioterapia respiratória para ele entender todo o raciocínio que nós vamos ter no pós-operatório. Isso faz com que a recuperação no pós-operatório seja muito mais rápida, porque ele já está consciente de tudo que vai acontecer, já sabe o que esperamos de expansabilidade pulmonar, com aumento da capacidade respiratória", pontua.Com isso, de acordo com Bráulio Brasil, todo o processo de retirada da ventilação mecânica, com estímulos próprios respiratórios, realiza-se a extubação, e de forma imediata a ventilação não invasiva e posicionamento sentado no leito preservando a função respiratória, mantendo o pulmão aberto. Dentro de um bom quadro hemodinâmico e pulmonar na UTI, a mobilização precoce se torna necessário para reduzir tempo de internação hospitalar. Colocamos ele para sentar, mobilizando membros inferiores e um pouco de membros superiores. Tudo isso é feito no pós-operatório imediato", precisa.

Como consequência, continua o fisioterapeuta, já é possível sentar o paciente fora do leito, colocá-lo em de pé e incentivá-lo a dar os primeiros passos dentro da UTI, mesmo com os drenos abdominais e torácicos. "Hoje, o grande feito do fisioterapeuta intensivista é trabalhar com a mobilização precoce. O imobilismo é a pior doença do doente", avisa, complementando que, a medida de evitar o imobilismo, provocou uma expressiva diminuição nos casos de complicações pós operatórias, como a trombose e infecções respiratórias. "Se conseguimos fazer essa mobilização em paciente cardiopata, conseguimos ter uma resposta muito mais positiva", conclui.



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