Fisioterapia no Transplante Cardíaco










É verdade que o transplante cardíaco tem sido muito bem-sucedido, proporcionando uma segunda chance de vida para pacientes em estágio final da doença. Esse procedimento pode aumentar a sobrevida dos transplantados em média 10 anos, permitindo que eles retornem às suas atividades diárias com melhor qualidade de vida.

O programa de Reabilitação Cardíaca tem sido eficiente no tratamento de pacientes transplantados, podendo ser iniciado antes mesmo da cirurgia, no pré-operatório.

O Transplante Cardíaco (TC) é a primeira opção de tratamento na falência cardíaca, e as principais indicações para a realização são:

A rejeição de corações previamente transplantados
Cardiomiopatia dilatada
Doença arterial coronariana
Miocardiopatia isquêmica
Doença valvar
Cardiopatia congênita, quando a terapia farmacológica não é mais responsiva.

A Reabilitação Cardíaca oferece diversos benefícios aos transplantados, como a adequada readaptação às atividades diárias e ocupacionais, redução da frequência cardíaca e pressão arterial em repouso e durante o exercício, aumento do consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo), atraso na elevação do lactato durante o exercício, redução do Índice de Percepção de Esforço (IPE) conforme a escala de Borg, além de melhorar a capacidade funcional e, consequentemente, a qualidade de vida.

Programas de Reabilitação Cardíaca com duração de 8 a 12 meses podem aumentar em até 50% a capacidade funcional de pacientes submetidos a transplante cardíaco. Através do desenvolvimento de adaptações centrais e periféricas melhora-se a extração periférica de oxigênio e o desempenho hemodinâmico.

Para esse grupo de pacientes, os programas formais de exercício parecem ser mais proveitosos do que somente a prática da atividade física domiciliar. Além de recuperarem a capacidade funcional, eles beneficiam-se do suporte educacional, nutricional e do apoio psicológico disponíveis em programas estruturados de Reabilitação Cardíaca.

Fases de tratamento através de exercícios

Fase hospitalar

Durante a fase hospitalar, além do aconselhamento sobre fatores de risco e mudanças de hábitos, são utilizados procedimentos de fisioterapia respiratória. Esses procedimentos envolvem técnicas manuais, posturais e cinéticas para prevenir infecções respiratórias, atelectasias e acúmulo de secreção nas vias aéreas.  As técnicas mais aplicadas são:

Exercícios respiratórios

Os exercícios respiratórios visam promover a aprendizagem de um padrão respiratório normal englobando a conscientização do movimento toraco-abdominal, ganho de força da musculatura respiratória, além de favorecer a reexpansão pulmonar, o aumento da ventilação e da oxigenação, e a melhora da mobilidade da caixa torácica.

Tapotagem ou percussão pulmonar

São manobras realizadas com a mão em concha sobre a superfície externa do tórax do paciente proporcionando vibrações mecânicas, as quais são transmitidas aos pulmões, gerando mobilização das secreções pulmonares.

Vibração manual pulmonar

A vibração é a aplicação de movimentos ritmados durante a expiração, aumentando o fluxo expiratório e conduzindo as secreções já soltas para serem expectoradas.

Nessa fase, também é importante realizar fisioterapia motora para manutenção e/ou ganho de força muscular, amplitude de movimento, treino de equilíbrio e marcha. Alguns exemplos:

Movimentação passiva ou ativo-assistida:
Movimentação ativa de membros superiores:

A fisioterapia deve se iniciar nas primeiras 24 horas após cirurgia com exercícios passivos, evoluindo para movimentação ativa e uma deambulação lenta, até chegar à fase ambulatorial.

Fase Ambulatorial

Esta fase tem um importante papel na manutenção do bem-estar do transplantado, favorecendo maior tempo de sobrevida com melhor qualidade de vida. Esta fase está relacionada com a ausência dos sintomas da insuficiência cardíaca, responsável por promover a adequada readaptação e o retorno das atividades básicas e instrumentais de vida diária, e possivelmente, para as suas atividades laborais.

Na fase ambulatorial ainda ocorre a necessidade de monitorização, podendo ser realizada fora do ambiente hospitalar, em ambulatório ou em clínica de reabilitação especializada, cujo principal objetivo é evitar a evolução da patologia, rejeição do novo coração, e o aparecimento de um novo acometimento cardiovascular.

Nessa fase destaca-se a combinação do exercício aeróbico e do resistido como protocolo ideal, demonstrando maiores benefícios a curto e longo prazo.

O treino aeróbico pode ser realizado em esteira ou bicicleta ergométrica, e ainda, através de circuitos ativos que associam deslocamentos ântero-posterior e látero-lateral.

Há comprovação cientifica que os exercícios aeróbicos promovam um aumento do VO2 de pico, traduzindo-se em aumento da capacidade de suportar esforços prolongados, além de redução do colesterol total, LDL e níveis séricos de glicose.

Já os exercícios resistidos são capazes de incrementar o tempo de exercício aeróbico, além de promover o aumento de força muscular dos membros superiores e inferiores, refletindo na melhora da capacidade física. Por isso é muito importante continuar realizando-os na próxima fase, a qual deverá ser "eterna".

Os exercícios resistidos devem ser realizados tanto para os membros superiores quanto inferiores, através da resistência manual, de molas ou elásticos, auxiliando no aumento da massa muscular e da densidade óssea. Este tipo de treinamento é particularmente importante, porque neste grupo de pacientes ocorre perda de massa magra e óssea em consequência da insuficiência cardíaca e dos medicamentos utilizados no pós-transplante.

Fase de manutenção ou não supervisionada é a última e a principal fase, onde o paciente já está apto a realizar suas atividades diárias e ainda praticar os exercícios de forma independente, sozinho ou em grupo, com ou sem supervisão, realizando de forma consciente em qualquer ambiente (clínicas, clubes, academias), inclusive em seu domicílio.

É importante que o paciente tenha acompanhamento da equipe multiprofissional, a qual irá realizar avaliações semestrais para realizar atualização do programa de orientações e de treinamento físico, além dos exames de rotina. Portanto, é de extrema importância que os pacientes continuem realizando o programa de treinamento com exercícios aeróbicos e resistidos para manter os benefícios alcançados durante a Reabilitação Cardíaca por mais tempo.

A intensidade do exercício na Reabilitação Cardíaca pós-transplante deve ser adequada para manter e/ou aumentar a força e resistência muscular dos principais grupos musculares, de acordo com a avaliação prévia do fisioterapeuta. Independentemente do método utilizado, os pacientes têm obtido resultados benéficos com a Reabilitação Cardíaca após o transplante.

Os transplantados submetidos a programas de Reabilitação Cardíaca, que realizam sessões de exercício quatro vezes por semana com intensidade moderada, apresentaram melhora da capacidade aeróbia entre 20 e 50%.



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