Efeitos agudos de uma sessão de reabilitação cardíaca sobre a pressão arterial








Introdução

Hipertensão arterial é uma condição mórbida e um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares em adultos. Uma análise durativa realizada por dez anos revelou a incidência de doenças cardiovasculares em adultos hipertensos entre 35 e 64 anos em 4% dos indivíduos do gênero feminino e em 8% do gênero masculino; na faixa etária de 65 a 90 anos, esses índices sobem para 19% dos indivíduos do gênero feminino e 25% do masculino (1).

O número de hipertensos tem crescido muito nos últimos anos, principalmente na população idosa, o que aumenta a incidência de doenças cardiovasculares. Fatores de risco como obesidade e ingestão de bebida alcoólica, comuns na população atual, aumentam o risco de incidência de desenvolvimento de hipertensão arterial em 1,56 e 1,22 vezes, respectivamente (2, 3).

Durante e após a realização de atividade física, a necessidade de resfriamento corporal e aumento do aporte sanguíneo para os músculos esqueléticos promovem uma inibição do sistema nervoso simpático; como consequência, ocorre vasodilatação periférica e diminuição da resistência vascular e da pressão arterial (4-7).

Estudos que avaliam exercício físico como tratamento não medicamentoso para hipertensão arterial indicaram que ocorre boa resposta terapêutica. Muitos desses efeitos ocorrem entre a primeira e a quinta sessão, o que indica que a curva dose-resposta pode ser abrupta (8). Estudos como o de MacDonald et al. (9) demonstram que exercícios aeróbicos, de moderada intensidade realizados em cicloergômetros, são suficientes para causar um efeito hipotensor, e que 10 ou 30 minutos de exercício promovem a mesma resposta hipotensora. A monitorização contínua da medida ambulatorial de pressão arterial indica que esses efeitos hipotensores agudos podem perdurar por horas (10).

Assim, o objetivo do presente estudo é mensurar a duração do efeito hipotensor de uma única sessão de reabilitação cardíaca a partir da prática de exercício aeróbico de curta duração e moderada intensidade.

 

Materiais e métodos

O estudo foi prospectivo e quase-experimental. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Estadual de Saúde da Paraíba (CEP/SES-PB). Participaram do estudo nove voluntários hipertensos e sedentários. Os voluntários foram monitorizados pelo exame de medida ambulatorial da pressão arterial (MAPA Pro Medic) por 12 horas e 30 minutos (período de vigília); o aparelho foi programado para gravar dados pressóricos a cada 15 minutos (totalizando 50 aferições de forma sequencial). Após a instalação do MAPA, os voluntários se mantiveram em repouso, sentados, durante três aferições de pressão arterial (totalizando 30 minutos).

Logo em seguida, foi realizada uma única sessão de treinamento aeróbico por dez minutos em bicicleta ergométrica (Reebok Power Bike), numa intensidade moderada (60-70% da frequência cardíaca máxima prevista para cada indivíduo e Escala de Esforço Subjetivo de Borg adaptada numa faixa de 6 a 8).

Após a realização da atividade física, os pacientes se mantiveram na posição inicial de repouso (sentados) durante uma aferição de pressão arterial (quarta aferição) e, em seguida, foram encaminhados aos seus domicílios e orientados a permanecerem em repouso (sentados ou deitados) durante as 12 horas de monitorização. Caso não pudessem permanecer em repouso, os pacientes deveriam registrar a atividade realizada em diário oferecido. A análise dos dados obtidos no estudo foi realizada com o uso do software "Graph Pad Prism 4"; para determinação de diferenças estatísticas com valor de significância p < 0,05 foi empregados o teste de normalidade Shapiro-Wilk e o método ANOVA.

 

Resultados

As características dos voluntários – idade, gênero, índice de massa corporal e medicameno anti-hipertensivo utilizado – estão descritas no Quadro 1, a seguir:

 

 

O grupo analisado foi aprovado no teste de normalidade Shapiro-Wilk (alpha = 0.05). A PAS média foi de 157,5 ± 16,98 mmHg e PAD média foi de 93,11 ± 14,10 mmHg no início do estudo. Houve redução tanto na PAS como na PAD durante as 12 horas de estudo (Figuras 1 e 2).

 

 

 

 

 A PAS média durante as 4 primeiras horas pós-exercício foi de 132,7 ± 17,51 mmHg (p < 0,001 comparadaa à basal) e a PAD foi de 77,09 ± 13,96 mmHg (p < 0,001 comparada à basal). A PAS entre 4 e 8 horas pós-exercício foi de 131,1 ± 16,95 mmHg (p < 0,001 comparada à basal) e a PAD foi de 75,92 ± 12,92 mmHg (p < 0,001, comparada à basal). A PAS entre 8 e 12 horas pós-exercício foi de 133,9 ± 17,82 mmHg (p < 0,001 comparada à basal) e a PAD foi de 75,84 ± 12,14 mmHg (p < 0,001 comparada à basal). Não foram observadas diferenças significativas nas aferições da PAS e da PAD nos períodos entre 4, 8 e 12h após o exercício.

 

Discussão

A atividade física contribui para a redução da pressão arterial porque aumenta a atividade do sistema nervoso parassimpático e inibe a atividade simpática (6), melhorando a sensibilidade de barorreceptores (11-13); além disso, a atividade física influencia a função endotelial (14, 15), aumentando a complacência arterial.

Para ser clinicamente relevante, a hipotensão pós-exercício necessita ter uma magnitude significante e ser sustentada por um longo período sob condições ambulatoriais (16). Como demonstrado no presente estudo, foi significativa a redução pressórica observada após uma única sessão de dez minutos de atividade aeróbica; vale salientar como efeito benéfico que essa redução foi sustentada por 12 horas. Outros trabalhos relatam redução da pressão arterial por até 24 horas (17).

Revisões sobre o tema (18, 19) examinaram o tempo da hipotensão pós-exercício usando monitorização ambulatorial, porém os resultados são contraditórios, porque possivelmente o período pós-exercício não foi bem controlado em todos os estudos.

Hagberg (20) refere que há evidências de que pacientes sedentários hipertensos apresentam significativa redução na pressão arterial, especialmente na PAS. Essa redução fica evidenciada por um grande período de tempo após uma única sessão de exercício submáximo, corroborando com os dados encontrados no presente estudo.

Embora existam diferenças entre os gêneros no que diz respeito à pressão arterial e atividade simpática, a hipotensão encontrada foi similar entre os grupos. Esse resultado ratifica, portanto, estudos realizados entre ambos os gêneros (21, 22) e grupos específicos (23).

Com relação à intensidade do exercício, o presente estudo demonstrou que exercícios moderados são suficientes para diminuir os níveis pressóricos. Esse resultado ratifica o estudo de Viecili et al. (24), que demonstrou eficácia na diminuição da pressão arterial já na primeira sessão com 20 minutos de duração, também com intensidade moderada. Isso indica que é possível obter resultados satisfatórios com níveis mais seguros de exercício, contrariamente aos achados de Quinn et al. (25), em que foi evidenciada redução absoluta maior e mais duradoura da pressão arterial com exercícios de intensidade elevada com 30 minutos de duração.

Em outro trabalho (26), que utilizou o exercício com 50 minutos de duração e intensidade de 50% do VO2 (consumo máximo de oxigênio) para demonstrar os efeitos hipotensores do exercício, observaram-se reduções significativas na PAS e na PAD durante o período diurno, de 11 e 4 horas, respectivamente. Semelhante resultado ocorreu na pesquisa de Taylor (27), em que ocorreu a hipotensão após exercício moderado de 30 minutos, sendo a PAS reduzida por até 16 horas e a PAD por quatro horas.

Quanto à duração do exercício, Mac Donald (28) documentou que dez minutos de exercício moderado foram suficientes para eliciar uma diminuição da pressão arterial sistólica e diastólica pós-exercício em indivíduos hipertensos. Entretanto, a mensuração da pressão, diferentemente do presente estudo, foi mensurada somente até uma hora após a realização do exercício. Outro estudo (29) demonstrou que exercícios de maior duração têm efeitos hipotensores mais acentuados, quando comparados a exercícios de menor duração.

 

Conclusão

O presente estudo observou que uma sessão de exercício físico de curta duração com intensidade moderada foi suficiente para reduzir os níveis pressóricos dos voluntários analisados por um período de 12 horas. Esse tipo de terapia pode ser utilizada como método não farmacológico para o tratamento da hipertensão arterial.

 

Referências

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Murillo Frazão de Lima e CostaI; Danielly Inocêncio de AraújoII

IFisioterapeuta, mestrando em Fisioterapia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), especialista em Fisioterapia Pneumofuncional pela Universidade de Brasília (UnB), especialista em Reabilitação Cardíaca pela Universidade Gama Filho, Natal, RN - Brasil, e-mail: murillo.frazao@gmail.com
IIFisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ), João Pessoa, PB - Brasil, e-mail: nelly_fisio@yahoo.com.br



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