Anatomia e patologia das artérias carótidas







Aproveitando o gancho criado pelo texto do José Márcio sobre "desmaio", vamos falar aqui sobre as Artérias Carótidas e sobre o que acontece quando obstruem, já que um dos sintomas mais importantes nestes casos é a Síncope, um tipo de desmaio como conhecemos, que pode sinalizar a falta de oxigenação adequada do cérebro.

Para iniciar, vamos revisar a localização anatômica das Carótidas, e assim entendermos o porquê de desmaios na obstrução delas. Como já falamos no "Artérias e Veias", artérias são os vasos que levam o sangue rico em oxigênio e nutrientes, correto? Essas artérias, que são duas – direita e esquerda, são ramos do arco da Aorta, e saem logo após esta partir do coração. A Artéria Carótida Comum Direita se origina na verdade no tronco braquiocefálico, que é o maior ramo do arco da Aorta, e logo depois se divide em Artéria Carótida Comum Direita e Artéria Subclávia Direita, que vai para o braço direito. A Carótida Comum Esquerda parte na maioria das vezes diretamente da Aorta. Ambas passam então pelo pescoço (onde palpamos o pulso carotídeo) e seguem em direção à cabeça, se dividindo ainda em internas – que vão para o cérebro, e externas - que irrigarão outros setores da cabeça e do pescoço (tireoide, faringe, língua, face, e outros).

A causa mais comum de obstruções da Carótida é aterosclerose, ou seja, a formação de placa de ateroma, que evolui com o estreitamento progressivo da luz da artéria (estenose da artéria). Normalmente, este processo acontece na bifurcação da Carótida Comum em Externa e Interna, que leva o sangue rico em oxigênio para o cérebro. Essas placas, além de levarem à estenose, favorecem ainda a formação de trombos (coágulos) no seu interior que podem se soltar em direção ao cérebro (embolização), provocando acidentes isquêmicos, ambas então – estenose e embolização – podem terminar em um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou a Ataques Isquêmicos Transitórios (AITs). Estamos vendo aqui a causa mais comum de AVC isquêmico e de AITs, mas há ainda outras doenças carotídeas que podem terminar desta forma, como a dissecção, o acotovelamento, aneurisma , arterite ou a displasia.

Então, o objetivo no tratamento das obstruções das carótidas é prevenir os AITs e o AVC isquêmico, este que é irreversível. Ninguém trata doença carotídea para reverter um AVC, por exemplo. Para frisar, O OBJETIVO É PREVENIR!

O tratamento inicialmente é clínico, com o uso de medicações para controle da Hipertensão Arterial, do Colesterol e da Diabetes Mellitus. Além dessas, o uso de medicações para "afinar o sangue", como é dito popularmente, os antiagregantes plaquetários, também é parte do tratamento. E, é claro, são necessárias mudanças comportamentais! Cigarro, dieta irregular rica em gordura e sedentarismo devem ser combatidos. Vamos lá, o objetivo é prevenir, certo? Temos que primeiramente prevenir a formação da placa, a obstrução da artéria!

Os critérios para partirmos para o tratamento cirúrgico são bastante rigorosos. Como em qualquer outra cirurgia, temos que analisar muito bem o Risco X Benefício da cirurgia. Pacientes com estenoses maiores que 70% e sintomáticos, são a indicação-base para o tratamento cirúrgico, visto que o risco deste paciente fazer um AVC isquêmico é maior do que o risco da cirurgia. Existem ainda várias outras indicações mais subjetivas, ou seja, dependem muito de paciente para paciente, em relação à idade, presença de outras doenças, se já teve o AVC ou não, de como está a outra carótida e as Artérias Vertebrais (que também levam sangue ao cérebro), etc.

Hoje há duas formas de tratamento cirúrgico, o convencional (cirurgia aberta) e a angioplastia (cirurgia endovascular). É importante entender que até hoje não foi comprovado se uma é ou não melhor que a outra, mas que cada uma tem suas indicações. Deixaremos esta discussão para outro dia.

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